segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Governador de Mato Grosso do Sul manda atirar para matar quem tiver ficha na polícia

Alex Mello - FM PAN de Aquidauana


O governador André Puccinelli (PMDB) voltou a afirmar que os policiais militares de Mato Grosso do Sul estão sendo treinados para “matar bandidos”. “Os policiais estão autorizados a atirar no peito de quem tem passagem”, disse Puccinelli durante cerimônia de lançamento da campanha de segurança de fim de ano, realizada na Praça do Rádio Clube na manhã deste sábado. Ele havia feito afirmação semelhante em fevereiro deste ano, após um início de rebelião na Colônia Penal de Campo Grande. Em caso de novas reações, “os policiais podem disparar”, disse o governador na ocasião.

Cerca de 500 pessoas estiveram no evento e puderam acompanhar as declarações do governador. “Enquanto o policial atira na perna, o bandido já atira no peito. A ordem é atirar. O policial tem o mesmo direito do bandido de acertar o alvo em cheio”, disse o governador. André frisou que é cristão católico e que a recomendação de atirar para matar não contradiz sua orientação religiosa.

A fundamentação para essa “tolerância zero” vem do desejo da população, conforme Puccinelli. “A população exige que os policiais sejam mais enérgicos com os bandidos”, justificou-se.

Secretário:
O secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública Wantuir Jacini, que também esteve no evento, afirma que os policiais agem em conformidade com a legislação. “Eles são treinados para proteger os direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade”, disse. Sem infringir o horizonte da lei, os policiais podem atirar em bandidos desde que seja para proteger tais direitos. “Os policiais estão autorizados pela lei a usarem a energia adequada a cada situação”, disse.

De acordo com Jacini, o policial atira quando está sendo atacado ou quando o agressor está atacando terceiros. Essa recomendação se distancia da do governador, que condicionou a autorização de atirar não à situação de ataques dos bandidos, mas quando esses tiverem passagens pela polícia.

Jacini argumenta que o governador “pensa como médico, como cidadão”. Puccinelli como outro cidadão não teria – na análise do secretário – a mesma visão técnica de um policial sobre o assunto. “Um cidadão fala em atirar no peito, na perna. A polícia não vê dessa forma”, disse.

Segundo Jacini, a polícia considera a necessidade de parar a ação do bandido. Essa interrupção da ação pode resultar em morte, conforme o secretário. A PM está mudando de armas, adotando volume maior de pistolas “ponto 40”. Essa pistola tem stoping power (capacidade de incapacitar uma pessoa com tiro) maior. “Com o revólver 38, o policial chega a dar três tiros e não consegue parar o bandido. Mas com a pistola ponto 40, com um só tiro, o policial já pára o bandido”, afirma.

Arma permite parar sem matar:
A PM recebeu, hoje, 1.500 pistolas ponto 40. No total, a corporação já conta com 2.100 dessas armas. “Com essa pistola, o policial pode atirar no braço ou na perna que consegue parar o bandido”, diz o secretário.

A arma, que está sendo adotada pela PM, deveria reduzir a incidência de mortes no confronto entre policiais e bandidos. Não é necessário atirar no peito, diferentemente da recomendação do governador. “É que ele pensa como cidadão. Não entende dessas questões técnicas”, reforçou Jacini. Viviane Martins

Reincidência:
No início do ano, André Puccinelli se tornou notícia com destaques nacionais ao afirmar que os policiais estavam autorizados a atirar para matar. Isso ocorreu no dia 5 de fevereiro, após um início de rebelião na Colônia Penal de Campo Grande. A assessoria do governo disse, na ocasião, que o governador apenas estava determinando uma “tolerância menor do que zero".

Midiamaxnews/Osvaldo Júnior e Viviane Martins

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