terça-feira, 29 de outubro de 2013



No Mato Grosso do Sul, PSDB

negocia com PT

 Josias de Souza

Em 2014, o eleitor talvez se surpreenda com algumas coligações. Em alguns Estados, as transações eleitorais devem conter muito espanto, choque, assombro, admiração, confusão e ‘sim senhor, quem diria!?’ Por exemplo: PSDB e PT, que na arena nacional querem mastigar o fígado um do outro, esboçam um entendimento no Mato Grosso do Sul.
Candidato ao governo do Estado, o senador petista Delcídio Amaral negocia uma aliança com o deputado federal tucano Reinaldo Azambuja, pretendente a uma cadeira no Senado. Uma resolução do PT federal proíbe os filiados da legenda de firmarem alianças com os oposicionistas PPS, DEM e PSDB. Mas em política, como se sabe, o vocábulo impossível não é senão um conjunto de letras que contém o possível.
Correligionário de Delcídio, o deputado federal Antônio Carlos Biffi (PT-MS) disse que o petismo estadual pode celebrar com o tucanato uma “aliança branca”. Nessa hipótese, a chapa de Delcídio se absteria de lançar um nome para o Senado, a de Azambuja deixaria em branco a vaga de governador, e o eleitorado seria informado de que os dois estão juntos.
Se vingar, o arranjo fará duas vítimas. Além da coerência, perderá o grupo político do governador André Puccinelli, do PMDB. Chama-se Nelsinho Trad o peemedebista que Puccinelli lançou à sua sucessão. Ele é ex-prefeito da capital, Campo Grande. Para o Senado, o governador trabalha com duas alternativas: ele próprio ou sua vice-governadora, Simone Tebet, também do PMDB.
Puccinelli vinha cobrando do PT local a adesão à chapa do PMDB. Oferecia ao grupo de Delcídio a posição de vice. O ‘Plano B’ do governador previa um acerto com o PSDB do deputado Azambuja, cujo tempo de propaganda no rádio e na tevê compensaria a ausência do PT.
Prosperando a fórmula da aliança informal, Delcídio não poderá adicionar à sua propaganda o tempo do PSDB. Mas impedirá que os minutos de que dispõe o tucanato sejam cedidos a Nelsinho Trad, o candidato de Puccineli. Resta saber como reagirão as cúpulas nacionais do PT e do PSDB.
Presidente do PT federal, Rui Falcão já farejou a encrenca. Mas no momento está mais preocupado com a disputa interna pelo comando do partido, na qual se apresenta como candidato à reeleição. Colega de Delcídio no Senado, Aécio Neves, presidente e presidenciável do PSDB, também já foi informado do que se passa.
Para Aécio, o acerto com Puccinelli ofereceria um palanque presidencial mais sólido. Na sucessão de 2010, o governador apoiou o tucano José Serra, contra Dilma Rousseff. Porém, o passado de Aécio não o autoriza a intervir no Mato Grosso do Sul.
Prefeito reeleito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB) era um “poste” quando se elegeu pela primeira vez. Prevaleceu com o apoio de Aécio e do amigo Fernando Pimentel, atual ministro do Desenvolvimento de Dilma e candidato ao governo de Minas em 2014 pelo PT.
Quando se materializou, nas eleições municipais de 2008, a aliança do PSDB de Aécio com o PT de Pimentel também causou muito espanto, choque, assombro, admiração, confusão e ‘sim senhor, quem diria!?’ De modo que Aécio soaria esquisito se agora resolvesse vetar o casamento de jacaré com cobra d’água que se insinua no Mato Grosso do Sul.

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