Segunda-feira, dia 17 de Março de 2008 às 13:30hs
Edivaldo Bitencourt Foto: Giuliano Lopes
Com 90 anos de idade e vasta experiência política, acumulada como ex-prefeito de Campo Grande, duas vezes governador do Estado, deputado federal e senador da República, o advogado Wilson Barbosa Martins (PMDB), prepara a publicação do livro de memórias. Dividida em 12 capitulos e com aproximadamente 250 páginas, a obra deverá retratar episódios importantes da história da Capital, de Mato Grosso do Sul e do Brasil.
A participação política começou na faculdade de Direito no Largo São Francisco, em São Paulo, na década de 30. Na época, Drº Wilson - como ficou conhecido - teve como calouro ninguém menos que Ulisses Guimarães, que mais tarde foi companheiro na elaboração e promulgação da Constituinte de 1988, conhecida como Carta Cidadã. Na época, Martins já se posicionava contra o Estado Novo, a ditadura comandada por Getúlio Vargas (PTB).
"Sempre fui contra a ditadura", declarou Wilson Martins, ao relembrar que o fim da era Vargas marcou o seu ingresso na política em Campo Grande, onde ajudou a fundar a UDN. Por este partido, ele disputou, pela primeira vez, o cargo de prefeito de Campo Grande, que perdeu para Ari Coelho (PTB), assassinado dois anos depois em uma briga em Cuiabá, então capital do Mato Grosso uno.
Após ocupar o cargo de secretário-geral na gestão do prefeito Fernando Corrrêa da Costa, acabou se elegendo prefeito de Campo Grande em 1958. Esta gestão foi marcada pela reforma administrativa, organização do cadastro imobiliário e da cobrança dos tributos e na implantação da previdência social.
Resultado do êxito administrativo, Wilson Martins foi eleito deputado federal. Em Brasília, participou da crise causada pela renúncia do cargo de presidente da República por Jânio Quadros. "Foi um grave erro político", considerou. Como da ala reformista do UDN, conhecida como turma da Bossa Nova, acompanhou o debate em torno das reformas propostas por João Goulart, o Jango. "Ele era acusado de ser aliado dos comunistas", relembrou, durante entrevista concedida para o site e à TV Assembléia.
Cinco anos após a queda de Jango e do golpe militar, Wilson Martins foi cassado pelos militares e obrigado a se afastar da vida política. Durante os anos de chumbo, ele dedicou-se à advocacia em Campo Grande. Só retornou à política no final dos anos 70, quando foi criado o Estado de Mato Grosso do Sul.
VOTO DIRETO - Favorito na disputa do Governo do Estado, que realizaria eleições diretas em 1982, Plínio Barbosa Martins não aceitou ser o candidato da oposição, o MDB. Sem alternativas, o partido recorreu ao Wilson Barbosa Martins, irmão de Plínio. Ele acabou sucedendo no Governo o engenheiro Pedro Pedrossian, que tinha apoiado José Elias Moreira. "O Pedrossian é homem que gasta tudo o que tem, o que não tem e ainda deixa obras por fazer", definiu um adversário histórico, que acabou sucedendo em duas ocasiões.
Primeiro governador eleito pelo voto direto em Mato Grosso do Sul, Wilson Martins realizou uma gestão memorável. Pavimentou 2,5 mil quilômetros de rodovias, incluindo as estradas federais, como a BR-262, entre Três Lagoas e Corumbá, e a BR-163, entre Dourados e a divisa com o Paraná. Resultado do bom trânsito com o ministro Delfim Neto na época, obteve recursos federais para realizar projetos e implementar uma boa política salarial para o funcionalismo público estadual.
O SENADO - Em 1986 deixou o Governo para se candidatar ao Senado da República. Neste perído, participou ativamente da elaboração da Constituinte ao lado dos amigos Ulisses Guimarães e Mário Covas. Estima que apresentou 100 emendas.
SEGUNDO MANDATO - A maior frustração de Wilson Martins foi o segundo mandato como governador de Mato Grosso do Sul, de 1995-98. Herdou de Pedrossian uma gestão sem recursos, com dezenas de obras paradas, como o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, o Parque das Nações Indígenas, a Rodoviária de Campo Grande, o Parque do Produtor, entre outros. "Foi um Governo marcado por crises", admitiu.
Neste período, Wilson Martins comandou duas grandes operações com impacto até hoje em Mato Grosso do Sul. A primeira foi a renegociação da dívida do Estado com a União, incluindo o item que destina 17% da receita para o pagamento e amortização deste débito. "As normas eram uniformes. (As regras) da amortização eram as mesmas", destacou, sobre o período da negociação com o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A segunda operação foi a venda da Empresa Energética de Mato Grosso do Sul (Enersul). Justificou que esta era a linha adotada pelo presidente tucano, transferir as empresas públicas para a iniciativa privada. "A Enersul era uma empresa forte, bem arrumada", contou Martins. Ele disse que os recursos obtidos com a transação, em torno de R$ 700 milhões, foram usados para pagar os salários dos servidores públicos e dívidas do Estado de Mato Grosso do Sul.
Contudo, mesmo com o recurso extra, terminou o Governo sem quitar os salários dos servidores públicos estaduais. Contou que só não teve a Governadoria ocupada pelos funcionários, como ocorreu na gestão de Marcelo Miranda, porque usou a autoridade para evitar a invasão.
PAC - Para Wilson Martins, que sonha em concluir o livro de memórias neste ano, o prefeito Nelson Trad Filho e o governador André Puccinelli, ambos do PMDB, estão corretos em aderir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Não é hora de brigar", afirmou, destacando o potencial do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) é grande para alavancar o desenvolvimento do País.
Sobre Campo Grande, município onde nasceu em 21 de junho de 1917, na Fazenda Vacaria, avalia que está de bom tamanho. Só precisando de mais indústrias para atender a demanda por emprego. Acha que o máximo que a Capital deveria chegar é 800 mil habitantes, para manter este clima bucólico do interior, com as ofertas dos serviços de uma cidade grande.
RETRATOS DA HISTÓRIA - O Programa da TV Assembléia exibirá a entrevista com Wilson Barbosa Martins no próximo fim de semana no Canal 9 da NET (Campo Grande) e 11 (Dourados).
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